sexta-feira, 23 de março de 2012

Os Marcadores do Território



O território é concebido a partir de uma apropriação dos sujeitos. Um dado espaço – “prisão original” – se torna território a partir das significações (signos) dado a ele pelo(s) sujeito(s) – individual(is) ou coletivo(s). O território, portanto, continuando o parafraseamento iniciado, é, segundo Claude Raffestin (1933, p.44), “a prisão que os homens constroem para si”, ou seja, é resultado do conjunto de signos dado a ele pelo(s) sujeito(s).
Esses significados são expressão de uma gama de elementos culturais, sociais e espaciais, expressos objetivamente e/ou subjetivamente pelo(s) sujeito(s). O território contém em si esses elementos, e sua compreensão envolve o entendimento da apreensão que o(s) sujeito(s) faz(em) dele.
Isabel Castro Henriques (2003), no seu estudo sobre Angola colonial, tem como uma de suas preocupações o desvelamento dos elementos identificadores do espaço, no sentido de construir uma grelha interpretativa, capaz de permitir uma arrumação eficaz, mesmo que provisória, desses elementos. O desvelamento dessas simbologias possibilita o entendimento da territorialidade de um grupo. A esses símbolos ela denomina marcadores do território.

São seis (6) os tipos de marcadores enumerados:

1.       Marcadores “vivos”: são os marcadores criados pela natureza e interpretados e classificados em vista do processo de socialização, ou seja, os elementos da natureza recebem significado pelo grupo e mediam a socialização. Um território escolhido é necessariamente transformado tendo em vista duas operações: a adequação ao projeto do grupo e a reciclagem do próprio sistema ecológico.

2.       Marcadores “simbólicos”: não há marcador que não dependa de uma carga simbólica, mas estes simbolismos possuem hierarquia: alguns estão mais próximos da articulação homem/religião, outros mantêm com os espíritos relação mais tênue. Exemplos: plantas com funções religiosas, cromatismo simbólico, complexo de máscaras com cores, formas e materiais que definem a função no ritual.
3.       Marcadores “fabricados”: a fabricação de materiais, que obterão carga simbólica e/ou funcional, concentra não só o talento dos artesãos, mas o conhecimento íntimo das matérias-primas – fibras, essências, resinas, corantes – conjunto organizado em função das tarefas simbólicas a levar a cabo.
4.       Marcadores “históricos”: as marcas históricas se diferenciam entre sociedades com escrita banalizada e não. Tal como em outras circunstâncias, damo-nos conta da impossibilidade de compreender as articulações internas das sociedades africanas sem a mobilização constante da história: a dos homens, reforçada pela da natureza e dos objetos fabricados, para estabelecer relação contínua com os espíritos que, genericamente, os europeus incluem no quadro dos “feitiços”. Neste sentido, até mesmo as árvores podem ser consideradas “monumentos históricos”, pois presenciaram grandes acontecimentos, onde a ordem temporal não tem muita importância, mas sim a sua representação, e seu mito.
5.       Marcadores “musicais” ou sonoros: um dos suportes mais evidentes do processo de socialização está ligado a tríade fundamental: música, dança, canto. Tambores são utilizados não só para produzir música, mas também para estabelecer relações a longa distância entre os diferentes grupos, ajudando assim a assegurar a coesão do território.
6.       Marcadores “funcionais”: não havendo uma cartografia dos caminhos, marcadores funcionais, como para servir de referência nos caminhos, eram bastante referenciados por historiadores etnólogos em suas publicações. Estes marcadores são de duas ordens: naturais (vegetais, minerais, aquáticos) e construídos.

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