O território é concebido a partir
de uma apropriação dos sujeitos. Um dado espaço – “prisão original” – se torna
território a partir das significações (signos) dado a ele pelo(s) sujeito(s) –
individual(is) ou coletivo(s). O território, portanto, continuando o
parafraseamento iniciado, é, segundo Claude Raffestin (1933, p.44), “a prisão
que os homens constroem para si”, ou seja, é resultado do conjunto de signos
dado a ele pelo(s) sujeito(s).
Esses significados são expressão
de uma gama de elementos culturais, sociais e espaciais, expressos
objetivamente e/ou subjetivamente pelo(s) sujeito(s). O território contém em si
esses elementos, e sua compreensão envolve o entendimento da apreensão que o(s)
sujeito(s) faz(em) dele.
Isabel Castro Henriques (2003),
no seu estudo sobre Angola colonial, tem como uma de suas preocupações o
desvelamento dos elementos identificadores do espaço, no sentido de construir
uma grelha interpretativa, capaz de permitir uma arrumação eficaz, mesmo que
provisória, desses elementos. O desvelamento dessas simbologias possibilita o
entendimento da territorialidade de um grupo. A esses símbolos ela denomina marcadores do território.
São seis (6) os tipos de marcadores enumerados:
1. Marcadores
“vivos”: são os marcadores criados pela natureza e interpretados e
classificados em vista do processo de socialização, ou seja, os elementos da
natureza recebem significado pelo grupo e mediam a socialização. Um território
escolhido é necessariamente transformado tendo em vista duas operações: a
adequação ao projeto do grupo e a reciclagem do próprio sistema ecológico.
2. Marcadores
“simbólicos”: não há marcador que não dependa de uma carga simbólica, mas estes
simbolismos possuem hierarquia: alguns estão mais próximos da articulação
homem/religião, outros mantêm com os espíritos relação mais tênue. Exemplos:
plantas com funções religiosas, cromatismo simbólico, complexo de máscaras com
cores, formas e materiais que definem a função no ritual.
3. Marcadores
“fabricados”: a fabricação de materiais, que obterão carga simbólica e/ou
funcional, concentra não só o talento dos artesãos, mas o conhecimento íntimo
das matérias-primas – fibras, essências, resinas, corantes – conjunto
organizado em função das tarefas simbólicas a levar a cabo.
4. Marcadores
“históricos”: as marcas históricas se diferenciam entre sociedades com escrita
banalizada e não. Tal como em outras circunstâncias, damo-nos conta da
impossibilidade de compreender as articulações internas das sociedades
africanas sem a mobilização constante da história: a dos homens, reforçada pela
da natureza e dos objetos fabricados, para estabelecer relação contínua com os
espíritos que, genericamente, os europeus incluem no quadro dos “feitiços”. Neste
sentido, até mesmo as árvores podem ser consideradas “monumentos históricos”,
pois presenciaram grandes acontecimentos, onde a ordem temporal não tem muita
importância, mas sim a sua representação, e seu mito.
5. Marcadores
“musicais” ou sonoros: um dos suportes mais evidentes do processo de
socialização está ligado a tríade fundamental: música, dança, canto. Tambores
são utilizados não só para produzir música, mas também para estabelecer
relações a longa distância entre os diferentes grupos, ajudando assim a
assegurar a coesão do território.
6. Marcadores
“funcionais”: não havendo uma cartografia dos caminhos, marcadores funcionais,
como para servir de referência nos caminhos, eram bastante referenciados por
historiadores etnólogos em suas publicações. Estes marcadores são de duas ordens:
naturais (vegetais, minerais, aquáticos) e construídos.
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