O estudo em geografia e religião têm-se tornado um campo iminente para
estudos sobre o espaço. Os autores buscam caminhos interpretativos para
aproximação com o fenômeno religioso, os quais ainda estão em fase de evolução
e crescente discussão acerca do tema e dos métodos utilizados para avaliação
dos casos estudados.
Para o início dessa apresentação, podemos resgatar o estudo de Sylvio Gil
Filho, que aborda o tema através dos conceitos de território, territorialidade
e representações sociais.
Sem dúvida essas propostas colocam a necessidade de revisão e expansão
dos parâmetros de avaliação conceitual na geografia humana, resultando em
avanços científicos. Por isso, queremos levantar algumas práticas do ponto de
vista Animista.
O Animismo manifesta-se em diversos povos, principalmente aqueles
com características autóctones, ou seja, nativos de uma dada região geográfica
como é o caso de povos indígenas no Brasil e dos esquimós no ártico. A origem
da palavra é o ànima, que em grego é correspondente ao vento
externo, o elemento natural. Quando o termo é traduzido ao Latim se refere ao
ar interno, aquele que dá movimento, ritmo aos corpos (Dicionário Escolar, MEC;
1969). As práticas animistas são muito variadas e podem ser discernidas
por conta dos condicionantes culturais dos povos em evolução com suas regiões
originárias. Porém, um princípio é compartilhado para identificar o animismo: a
crença de que todos os elementos naturais possuem alma, extinguindo a hierarquia
entre elementos vivos ou não-vivos, sendo essência consciente de todos os
fenômenos materiais e espirituais.
A religiosidade institucional e todos os seus signos marcam o espaço
imanente e são representações de sua ontologia transcendental ao exercerem “o
papel do além” (Claval; 1999), tornado característica fundamental –através do
espaço- da noção de ancestralidade que constitui a gênese de determinadas culturas
e de seus objetos de crença fundamentados na religião. Essa construção socio-histórica
foi expressa na supressão das religiões pagãs e dos povos tradicionais na
europa medieval, seja na estrutura social hindu subdividida por castas rígidas
e hereditárias ou nas imensas teocracias de países do oriente médio.
Dessa forma, o animismo se diferencia da religião politeísta ou
monoteísta, no tocante às formas de interpretar a causalidade dos fenômenos e no
modo como estes influenciam a conduta de um dado grupo ou indivíduo. O animismo
é geralmente considerado como uma forma pouco evoluída de prática espiritual,
não dotada de complexidade. O ritual indígena da “dança da chuva” -bastante difundido
pelo senso comum no Brasil- constitui uma prática que louva os espíritos dos
céus para a obtenção de uma colheita farta. As oferendas que incluem matança de
animais e pessoas, a digestão de alguns órgãos por tribos antropofágicas são
ações relativas a crenças com base no animismo.
Os Iorubás africanos, em relação intrínseca com os Aborígenes
australianos- esses últimos migraram desde a África aproximadamente 50.000 anos
(G1 notícias; 09/05/2007)-, e diversas manifestações no sudeste da Ásia, são
algumas evidências de resistência do animismo no intervalo das grandes
religiões mundiais em cada continente. Aliás, essa é a forma que ganha o
animismo na contemporaneidade, através do sincretismo religioso, entre as de
cunho universalista (Islã, Budismo, Cristianismo) e outras com cunho étnico, o que
pode ser observado nas casas de umbanda no Brasil e nos Andehus na Tailândia
(entre budismo e animismo).
O caráter de “minoria” de praticantes dos sincretismos os coloca em
situação de desvantagem com relação as grandes religiões. No Brasil, o
neopentecostalismo difunde a ideia de constringir os cultos afro-brasileiros
(Silva; 2011), o que põe em risco os seus praticantes por conta de
intolerâncias de cunho religioso.
Referenciais(sítios):
CLAVAL, Paul. Geografia cultural: o estado da arte. 1999.
Pereira, Clevisson. Resenha: Espaço Sagrado, estudos em geografia da
religião. Gil Filho, Sylvio. Revista Brasileira da História das Religiões; 2009.
Gomes, Wiliam. Primeiras noções da Psique: das concepções animistas às
primeiras hierarquias em antigas civilizações. UFRGS, 2004.
Silva, Rachel. Geografia e religião afro-brasileira. XI CONLAB; 2011
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